Cet article a été traduit par les élèves de la classe préparatoire ECS4 du Lycée Ozenne de Toulouse, sous la supervision de leur professeur Audrey Lambert, dans le cadre du projet pédagogique “Initiation à la traduction d'actualités”. L'article original est paru sur Global Voices en anglais le 12 novembre 2008.
Quand l’Angola devint indépendant en 1975, les anciens colons portugais furent forcés de retourner au Portugal. Mais ils ne furent pas les seuls. D'ascendance portugaise ou pas, certains Angolais laissèrent aussi derrière eux leur vie entière. Ils abandonnèrent leur maison avec tous leurs biens, leurs voitures, leur travail et la plupart d'entre eux voyagèrent avec uniquement des vêtements de rechange. Ils n'eurent pas le temps de dire au revoir, de déposer un préavis auprès de leurs employeurs, de garantir que les maisons qu'ils laissaient grandes ouvertes leur appartenaient. Plusieurs années plus tard, les propriétaires des maisons revinrent afin de recouvrer leurs biens. Rien ne leur revînt. Les maisons avaient été occupées, dans la plupart des cas, par des gens de la campagne, ou données à d'autres personnes par l'Etat angolais, qui les avait déclarées abandonnées par les occupants précédents.
Ils arrivèrent au Portugal sans aucun espoir, ils paraissaient perdus, tenaient leurs enfants par la main et n'avaient en eux que la certitude d'un présent instable et d'un avenir gris. Au Portugal, ils étaient surnommés les retornados (revenants), terme péjoratif qui a perdu son sens avec le temps, mais qui marque toujours les âmes de ceux qui ont fui leur propre pays.
L'auteur du blog 25 de Abril O antes e o agora (25 avril – Avant et après, en portugais) narre l'histoire d'un homme qui laissa tout derrière lui pour fuir l'Angola :
Entre essa massa anónima de pessoas de destino incerto encontrava-se Ribeiro Cristovão, a sua mulher e os três filhos menores. “Mantive-me em Angola quase até à independência. Acreditava que apesar das alterações radicais haveria lugar para todos. Enganei-me.” No final de 1975 abandona o seu emprego na cervejaria Cuca e a sua casa em Nova Lisboa. O homem do desporto da Rádio Renascença confessa que os primeiros três meses passados em Lisboa foram os mais difíceis da sua vida. E sem o abrigo na casa da irmã em Alcochete, a sua história estaria hoje pintada em tons ainda mais negros. “Recordo-me de calcorrear a cidade à procura de emprego, sem sorte nenhuma. Estava mesmo desesperado. No primeiro Natal na capital, Ribeiro Cristovão afundou-se numa tristeza profunda. Ali estava ele rodeado com a sua família mas com a árvore despida de presentes. O rótulo de retornado teimava em fechar-lhe as portas”.
JPF, du blog Fado Falado voit les choses différemment :
Tenho contudo a ideia – e a convicção – de que por cá, os retornados foram na generalidade bem acolhidos. Pelo Estado e pelas pessoas em geral. Aliás a maioria e a sua descendência está por aí em situação identica à dos casos dos que já cá estavam e nas respectivas descendencias. Dir-me-ão que conhecem um caso X e outro Y diferentes. Provavelmente, há casos desses. Como os há de retornados que, não necessitando de nada, se fizeram e beneficiaram de toda a prebenda”.
L'auteur du blog Cubatangola nous rapporte un fait curieux :
Ontem tive a certeza que uma grande maioria dos antigos habitantes de Agola, não enjeita serem chamados de “retornados”. Tenho um familiar que devido a graves problemas de saúde, ACV já por mais de quatro anos se encontra internado num lar para idosos. Recentemente conseguimos arranjar um novo lar com umas condições bastante melhores e uma assistência mais completa, para o mudamos ontem. Quando umas das empregadas soube que este novo utente tinha vivido bastantes anos em Angola e tinha regressado na leva de 75, chegou-se a ela e disse simplesmente, EU TAMBÉM SOU RETORNADA! Uma frase simples, mas tão cheia de significado que foi suficiente para acalmar esta pessoa idosa, arrancando-lhe um sorriso, aqueles sorrisos de cumplicidade que trocamos com as pessoas que já conhecemos há muitos anos. Sim, mais do que nunca continuo a acreditar que esta palavra “RETORNADOS”, identifica um povo, povo esse que não se deve envergonhar de assim ser chamado, mesmo que alguns o achem pejorativo”.
En vérité, ni l'Etat portugais ni ses citoyens n'ont rendu la vie facile à ceux qui sont revenus au pays. Un fait confirmé par JPF :
Tenho família que fugiu de Angola em 75. Foi terrível para muita gente, para muitas famílias. Pelo que apreendi na altura e sei hoje, o Estado português, na época, não lhes prestou lá o apoio que deveria. Abandonou-os, mesmo. Mas isso é uma questão que têm de colocar aos responsavéis políticos de então. Basicamente, militares barbudos, alguns comunistas, muitos revolucionários e oficiais-generais, como Rosa Coutinho, Vasco Gonçalves e Costa Gomes. E outros de quem não conhecemos os nomes”.
Il est vrai que la majorité des retornados ont décidé de rejoindre la vieille métropole, mais certains ont choisi de rester en Angola. Il s'agissait, après tout, de l'endroit où ils avaient fondé une famille, d'un pays où les rêves et un avenir prometteur ne faisaient qu'un. Sur son blog, JPF publie une histoire de courage et d'attachement à la terre natale :
“Há uns anos, li na revista Pública, uma excelente reportagem com “o mais velho português de Angola”. Era um tipo com quase 90 anos. Tinha nascido lá, por volta de 1910. O seu avô tinha ido para Angola na primeira metade do século XIX.
O homem relatava a história da sua vida. Em 74 ou 75, quando rebentaram a sério as hostilidades em Angola, desfez a casa, carregou carros e camionetas e rumou, da cidade onde vivia, a caminho de Luanda, para se pirar com a família. Chegado a meio do percurso, de muitas centenas de quilómetros e milhares de perigos, parou o carro e pensou: vou fugir para onde? Porquê? Esta é a minha terra! Esta é a terra que eu gosto!
Voltou para trás com a família e ficou. Hoje terá perto de cem anos. Ou já morreu – na terra onde nasceu e que sempre amou. E onde foi enterrado pelos seus familiares.
Não tenho dúvidas de que este velhote amava mesmo de Angola”.
Pour finir, Carlos Pereira de meus escapes (en portugais) met en ligne une vidéo prise à Luanda en 1975, un témoignage de ce qu'il appelle “des moments dramatiques pour les victimes d'une décolonisation désastreuse”.
Les très belles photos qui illustrent cette revue de blogs sont des captures d'écran de la vidéo ci-dessus, de kutemba sur Dailymotion.